Minha Ana

Não sei como começar, mas acho que começando será bom. Muitos de vcs não sabem quem sou, nunca viram meu rosto. Outros sabem, são amigos, mas acho que esse blog  não possui importancia pra estes que estão perto. Quem sabe para as amigas anas isso importe um pouco! A ilusão te Tê-las como amigas me conforta. 
O lado bom é que, pode ser que seja bom falar (escrever), pode ser que ajude a organizar a mente. acho que sim.
O que acontece é que me ocupo muito com a alimentação. Não gosto muito de comer, geralmente me sinto mal e também não quero me ver sem limites. O que é fome?


Já fui de comer desesperadamente, antes eu sempre estava em busca de qualquer coisa, e comia descontroladamente. Meio que me sentia um bicho nestes momentos, comendo escondido, rápido, muito... até hoje sinto vergonha de comer, não gosto que me vejam comendo, por isso digo que me sinto mal quando como. Bom, descobri nos laxantes, algo que fazia com que eu me sentisse leve – então isso virou hábito.
Eu amo minha mãe! Mas no tratamento que faço para os distúrbios alimentares eu, com muita dificuldade, tive de falar da relação difícil que tínhamos na minha adolescência. Eu me sentia rejeitada por todos por ter 1,53 de altura e pesar mais de 70Kg. Sei que minha mãe tinha boas intenções, mas ela era muito dura comigo por eu ser enorme, eu sei que ela queria me fazer acordar, mas pegou pesado muitas vezes.

Minha mãe sempre viveu para os filhos, me levava pra aulas de dança, para o inglês, estava sempre envolvida com a minha vida e a do meu irmão. Minha mãe decidiu onde estudamos, o que vestimos, o comprimento dos nossos cabelos, tudo!

Uma coisa que eu gostava mesmo de fazer era dançar! Até hoje eu amo dança! Eu era boa! Mas um dia minha mãe achou que eu estava muito gorda pra dançar e me tirou das aulas de dança. E eu engordei mais ainda!
Ela parou de comprar roupas pra mim, porque dizia que não dava gosto de comprar roupa pra gordo!
Mas não era sempre assim, as vezes ela era doce comigo! Conversava e tentava abrir meus olhos. Por fim, ela tentou de todas as formas! Com carinho e amor, com raiva. Mas eu só acordei quando eu quis!
Quando eu e minha mãe brigávamos, eu ia para o quarto e comia e comia... dependendo da música que tocasse eu chorava, mas não gostava de chorar, achava cafona! Então se tocasse Summertime da Janis Joplin eu logo desligava.

No início da análise, tudo é tão perdido, se achar é difícil. Nos pedir pra falar da nossa relação com os pais parece lógico para o cara que vai escutar a gente. Mas eu já sabia o motivo pelo qual estava lá. Só que é tão cafona! Preferia que fosse fútil, do tipo, “estou na busca pelo corpo perfeito”. Mas não é isso!
Já falei de como me sinto nos blogs de algumas amigas anas.

Eu só quero gostar de mim, antes eu pensava, se eu perder peso vou gostar mais de mim, vou me sentir melhor, mas eu peso 52 quilos e ainda sinto o mesmo de quando estava com mais de 70kg.
Pra chegar aos 52Kg eu sabia que precisava “manter o controle, ao invés de ser invadida”. Mas começar é o mais difícil. De uma forma ou de outra, do nada eu fui me pesar e mesmo sem dieta eu havia perdido peso, isso me animou, então eu simplesmente passei a comer o menos que eu pudesse e tomar mais laxantes.

No começo eu não conseguia deixar a barriga doer, mas então veio a faculdade e o trabalho, estava fora o dia inteiro, fazia questão de andar com o dinheiro contado, pra não correr o risco de comprar besteira pra comer. E tchanram! Atingi meu objetivo!

Mas então veio a maldita, eu parei de “ficar mocinha” e isso se chama amenorréia. No começo deu pra esconder, mas mãe sabe de tudo mesmo!
E ela passou a fazer comida pra eu levar, e eu ficava com pena de jogar fora ou não comer e estragar, então acabava comendo, minha sorte é que minha mãe não foi drástica, ela me fazia saladas e sopas somente.

Bom, pra compensar a comida que ela me empurrava, eu passei a tomar mais laxantes, pra ser exata, 2 cartelas de lacto purga, e perdi o medo total, eu era das que ia no banheiro da central sem nojice nem nada!
Do nada eu comecei a ter queda de pressão no meio da rua, no banheiro de casa... era o lacto purga fazer efeito e pumba! Lá ia eu suando frio, com ouvido tapando e vendo tudo preto!

Minha mãe agiu, falando no meu ouvido e confiscando todo o meu dinheiro pra que eu não comprasse mais laxantes.
O que eu fiz?
Eu afanava laxantes das drogarias! Não, eu nunca fui pega, mas seria bem vergonhosos!

Como já disse, agora estou me abrindo sobre tudo isso com alguém e com algumas amigas anas, que são muito fortes ao meu ver!

Acabei de ser informada pela "pessoa" com quem eu converso, que apesar das minhas teorias sobre os meus motivos de ser assim eu apresento em comum a todas as anas certas questões, entre elas, a problemática imagem de mim, segundo o cara, o “álibi” que me sustenta como pessoa é frágil. (juro que ele me irritou dizendo isso!)

Nesse caso os problemas que tive e tenho estão relacionado à imagem que faço de mim. Todo o desanimo, e reflexão sobre o sentido da vida, o “lugar feminino no mundo”, resumindo, tudo o que eu pensava ser um exercício de pensamento filosófico existencialista tal qual Simone de Beavuar, são apenas resultado da minha imagem! (injusto, sai de lá me sentindo efémera!)

Disse o cara que a aquisição de uma imagem de si é tipo uma consequência das relações primordiais que estabelecemos. Quer dizer, a constituição subjetiva se dá através de uma primeira imagem denominada de um “Eu Ideal” tomada a partir do olhar, do desejo de um outro, que segundo ele seria a minha mãe, esse outro primordial, que produziu uma imagem que passou a ser uma matriz simbólica no meu processo de identificação.

Segundo o doutor nos disse, é o “discurso” materno que envolve ou veste o corpo biológico com uma segunda pele que é composta ou visualizada por significantes que são o resultado do desejo materno. Essa “roupa” é que estabelece os limites entre o dentro e o fora do indivíduo, no caso, eu. E é ela que permite as trocas entre o interior e o exterior.

E então a falta de um olhar, de um desejo que forneça uma imagem, que defina uma silhueta, no caso, me defina em um prazer de troca, é como se este olhar desfalecente materno, atravessasse o corpo a ponto de torná-lo transparente.

No meu caso em particular, o que ficou transparente foram as qualidades, e assim, eu não poderia mesmo gostar do que é defeituoso, porque assim foi visto. Ao contrário de uma mãe que não respondeu a nada, a minha respondeu a imagem que ela não desejava enxergando apenas o “outro” alheio à o que eu poderia encontrar no espelho, que passa a ser um lugar onde eu não posso olhar porque não posso suportar. E realmente olhar para o espelho já foi bem triste, e já desviei o olhar (lembrando que espelho e corpo aqui são símbolos interpretados)

A imagem que faço de mim é frágil, e típica das pessoas que apresentam anorexia e bulimia. E segundo o médico, isso acontece porque eu só me senti atendida nas necessidades biológicas e não fui acolhida nas minhas demandas psíquicas.
Então eu me pergunto, como? Se minha mãe era presente??

Segundo o "cara" a dificuldade nas relações entre pacientes e suas mães geralmente não fazem parte do discurso inicial, mas é um aspecto em comum nesses casos. Diferente dos neuróticos (que se colocam num lugar de vítima), pacientes como eu não costumam atribuir ao outro (no caso, a mãe) a causa de seus problemas.
De fato eu concordo com isso. Não consigo ver ninguém além de mim como responsável, particularmente acho esse lance da mãe meio ridículo, e quero ressaltar que eu e minha mãe somos muito amigas! Mas não posso negar que falar sobre comer e tal... está sendo bem interessante! Como já disse Lacan “a palavra é o assassinato da coisa”.

Outras coisas, como associar o uso de laxantes como uma ação involuntária e de representação das relações maternas, já me parecem meio que viajem

Por outro lado, dizer que pacientes que comem muito pouco se mostram como auto-suficientes eu concordo, porque me parece lógico considerando o auto controle que a pouca ingestão de comida exige e sobretudo o meu humor que é um termômetro do que eu como, ou melhor, de quanto eu NÃO como. Quanto menos eu como, mais leve eu me sinto, mas bonita e mais feliz!

É comum as pacientes relatarem as crises bulímicas (os empanturramentos, vividos como atos compulsivos) como momentos de angústia, com perda de controle, sentimento de despersonalização, estranhamento e desamparo.

A noção freudiana de desamparo parte do estado inicial de insuficiência psíquica do bebê, que o coloca em uma situação de dependência vital face ao adulto protetor. Freud atribui a este período de impotência objetiva o estatuto de protótipo de uma condição de fragilidade ainda mais fundamental que, além da infância, é inerente a todo funcionamento psíquico. Refere-se à precariedade, à condição de ausência de garantias definidas.

Lendo sobre esse assunto vi que em alguns casos a anorexia e a bulimia não são consideradas diferentes das neuroses, perversões e psicoses. Ao contrário, são apenas modos diferentes de manifestação dessas psicopatologias.

Achei essa Barbie vomitando muito FOFA!
No entanto, o termo “estados-limite” é mais frequentemente citado bem como “limítrofes”, “fronteiriços” ou “borderlines” para nomear tais fenômenos clínicos. Outras vezes é empregado o termo “patologias do narcisismo”. Alguns autores também as associam à depressão ou melancolia. Freud mesmo, – em seu Rascunho G, de 1885 –, mencionava a relação da anorexia com a melancolia, relacionando a recusa da alimentação com melancolia.

Lendo sobre esses conceitos todos, realmente não vejo como me qualificar, e nada me foi dito sobre tais conceitos pelo medico. Mas me chamou a atenção a Patologia do narcisismo, pela explicação que li sobre isso, posso dizer que o nome já se explica. O fato é que em transtornos como os meus as coisas se ligam a situações em que experimentamos a perda de uma relação de suporte narcísico que abala a consistência psíquica. Podemos encontrar, então, algumas relações que se repetem, apesar das singularidades dos casos.

Parece dizer respeito a alguma lacuna simbólica da fase pré-especular do processo de constituição subjetiva, aproximando-se da problemática da melancolia, ou melhor, da neurose narcísica. Parece haver, assim, uma deficiência, uma precariedade relativa à constituição do Eu Ideal, devido a sentir não ter sido investida de forma a ter significado o falo imaginário materno – ser o que poderia imaginariamente suprir a falta materna. Pois, por mais que se configure ilusório, imaginário e que, além disso, seja preciso deixar de sê-lo para aceder a uma posição subjetiva (isto é, é necessária a castração), sabemos que, para deixar de sê-lo, é preciso “ter sido” antes. Então, é necessário ter havido a alienação para haver a separação.

Se esse for o meu problema então está justificado o meu sofrimento, um apelo desesperado de vir a ceder a uma condição subjetiva.

Costumava esperar do "namorado" um desejo, um investimento dele em relação a mim, que sentia não ter encontrado, segundo “eles”, não encontrei nas minhas relações primordiais, um desejo que me outorgasse, então, uma imagem própria. O rompimento desta relação implicaria em uma eclosão de manifestações de anorexia e, sobretudo, bulimia. Será mesmo?

Sendo assim, está explicado a visão paternal que possuo do "namorado", e o fato pelo qual me sinto ainda muito ligada a ele, mesmo depois de todos esses anos, são 4, eu acho.

Uma separação é sempre uma experiência de abandono, de desamparo, e isso sem dúvida reedita uma experiência de abandono anterior, mais arcaica, relativa às minhas primeiras relações. Será por isso que não poderia abandonar a primeira pessoa que de fato me olhou?
 
Aqui saio dos campos "científicos" se é que eu posso charmar assim, e parto para o romantismo.

2 comentários:

  1. Não sabia dessa sua história...
    é bom ver que vc começa a dividi-la conosco!

    sobre o que vc falou dos "amigos" que não se envolvem muito com seu lado ANA, vai ver é porque vc não fala sobre isso com a gente, não?

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  2. Algumas informações a mais...


    A bulimia nervosa é uma disfunção alimentar associada à anorexia nervosa, com um diferencial: a pessoa bulímica tende a apresentar períodos em que se alimenta em excesso, seguidos pelo sentimento de culpa por causa do ganho de peso. Para "compensar" o ganho de massa, o bulímico exercita-se de forma desmedida, vomita o que come e/ou faz uso excessivo de purgantes e diuréticos.
    Além dos mesmos danos à saúde causado pela anorexia, a bulimia nervosa tem outras complicações, tais como danos severos ao esôfago, às glândolas salivares e aos dentes, por causa do ácido estomacal, presente no vômito, que corrói tais órgãos,o que em alguns casos pode levar à morte .

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