segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Hannah e suas irmas - Woody Allen (1986)

Uma das obras de arte feitas por Woody Allen nos anos 80.
O filme apresenta sucessões de sutis citações as artes visuais, literatura e musica clássica, esta última se apresenta como um dos pontos altos do filme. W.A. Casa musica e cena, a musica atua como ponte que faz passar a ser cômica uma cena que se iniciou romântica.

A música ao mesmo tempo em que está casada com a cena, entra em cena, é mais que uma composição desta, é quase um personagem.

Outro “personagem” que me conquistou foi a própria cidade de Nova York, e sua arquitetura que foi apresentada como obra de arte a céu aberto, e mais uma vez temos a arte atuando como personagem quando a arquitetura, assim como a música, entra em cena e algumas vezes (no caso das esculturas espalhadas pela cidade) atuavam como uma extensão do pensamento ou do sentimento do personagem.


Nas cenas externas muitas vezes é possível ver pontos vermelhos compondo um cenário frio e pálido. São pontos vermelhos que ora são vibrantes ora são opacos; ora estão nítidos no quadro e ora estão se escondendo de nós. Esses pontos de luz são tão insistentes nas cenas e, sobretudo, nas externas, que parecem elementos postos intencionalmente.

São em quadros fixos focalizando um forte fundo vermelho, que por duas (maravilhosas) vezes, logo no inicio do filme, os atores entram em cena.


A Hannah de Mia Farrow:

A atriz rouba a cena, mais do que “Rosa purpura do cairo”, “Hannah e suas irmãs” é o seu filme. Não imagino outra atriz no lugar de Farrow. A personagem Hannah exigiu a fragilidade e delicadeza física da Mia Ferrow, e a doçura da sua voz em contraste com a força interior que a atriz só poderia impor através do olhar. Assim vemos a composição da personagem mais dominadora e centralizadora, um personagem verdadeiramente violento, que Mia Farrow encarnou de modo único, qualquer outra forma de compor Hannah teria sido exageradamente caricata.


As faces de W.A.

Os maridos das três irmãs, o sedutor Eliot, o artista sabichão Frederick (o meu favorito) e o hipocondríaco Mickey são, ao meu ver, três possibilidades de Woody Allen. Mas essas constantes especulações de qual personagem é o W.A. do filme me faz buscar um referencial Alleano em todos os filmes do diretor.


*(confesso que como todos sempre tenho a sensação de ver um Woody em cena, mesmo quando não temos Woody atuando, mas não consegui ver isso em “O sonho de cassandra”, e muitos também não viram. Soube que nas gravações W.A. deu uma de Kubrick e pegou no pé dos atores principais do filme, e muitas vezes fez interferências nas atuações, em entrevista os atores disseram que Allen nunca deixou claro as intenções dele apenas dizia “façam de modo diferente”, e que até o momento eles se perguntavam “o que Allen queria?” acho que essa é a pergunta errada, a questão é “quer que eu o imite W.A.?” de preferencia, faça isso gaguejando!)


Algumas outras questões do filme

A busca por deus e pelo sentido da vida que o personagem de Woody Allen faz no decorrer de “Hannah e suas irmãs” é o ponto alto da comédia do filme, e ao mesmo tempo muito existencialista.

Quando o judeu Allen tenta virar budista depois da falha tentativa aceitar Cristo como o messias

E o questionamento sobre o direito que o artista possui, e se ele possui direitos, de usar como inspiração as histórias de pessoas próximas, quando Holly a irmã de Hannah que vira escritora usa a historia de Hannah e seu marido como inspiração.

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